sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A Meo e a subversão da ética comercial

Há uns meses, recebi uma fatura da Meo (serviço de banda larga) com um custo acima daquele que habitualmente me era debitado.
Pensei tratar-se de um lapso que viria a ser corrigido, o que não aconteceu.
Decidi, então, acabar com o serviço dado que não estava vinculado a qualquer período de fidelização.
Dirigi-me a uma Loja Meo para o efeito, tendo-me aí sido dito que o deveria fazer telefonicamente.
Liguei para a Meo por diversas vezes e em diferentes dias, ficando à espera de ser atendido entre 15 e 30 minutos, o que não ocorreu.
Liguei, então, com o propósito de falar com alguém da Meo.
A chamada foi atendida de imediato.
Depois de ter dito à operadora ao que ia, esta disse-me que deveria ter carregado algum programa e que isso se traduziu na assunção de um novo preçário, mas que se poderia acertar um novo preço.
Respondi-lhe que não o pretendia, continuando com o propósito de me desligar da Meo.
Disse-me que, sendo assim, iria reencaminhar a chamada para quem trataria do assunto já que essa seria matéria que não lhe competiria.
Fiquei de novo em suspenso, sem que ninguém atendesse a chamada.
Em 24 de abril e 27 de junho, reclamei para a Anacom, nomeadamente no sentido de saber se com aquele comportamento a Meo podia continuar a exigir o pagamento de um serviço que já sabia que o cliente não desejava e que também sabia, pois para isso tem meios, que o cliente não utilizava.
Até agora não obtive resposta da Anacom.
Em 27 de julho, recebi um telefonema da Meo alertando-me que devia uma certa quantia.
Tendo dito à operadora que há meses tentava acabar com o contrato, esta respondeu-me que estava findo.
Paguei a quantia.
Afinal não estava findo, mas suspenso, pelo que, pagado o que devia, a Meo continuou a debitar-me novas quantias.
Pelo site da Anacom, dirigi-me diretamente à Meo, da qual obtive, por duas vezes, a mesma resposta cínica: não receberam qualquer carta, com cópia do cartão do cidadão, solicitando a rescisão do contrato.
Sobre os telefonemas, ignoraram que esse era o cerne da questão.
O assédio da Meo continua, como continua o silêncio da Anacom.
Para cobrar mais, para alterar o tarifário, basta que alguém aceda a um qualquer programa sem dar por isso; para riscar a Meo da nossa vida, é uma vicissitude.
A Meo é concessionária de um bem público; se a concessão fosse democraticamente a votos, o meu seria não.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Não eu

Há o direito a um não eu? Não apenas ao esquecimento de mim, mas à recusa de mim? O pós-humanismo, ainda que não sendo uma desumanidade, questiona o ser e o ter de cada um de nós. A tutela judiciária da identidade não é suficiente num mundo de algoritmos e desidentificação. A defesa do eu já não pertence à jurisprudência, mas tem de estar ao alcance de uma tecla.