Somos um país de denúncia fácil, talvez pelo peso de inquisições e polícias políticas que, afinal, ainda assim persiste. Quando denunciar é condenar, o que está em causa é o sentido da justiça. O uso da denúncia para atacar cidadãos ou corroer instituições tornou-se uma habilidade que a democracia não pode consentir.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
quinta-feira, 30 de maio de 2013
Terrorismo
O relatório do Departamento de Estado apresentado ao Congresso dos USA é um instrumento de trabalho que não pode ser ignorado. Aqui.
Leituras
PRIMEIRO E ÚLTIMO SONETO DE AMOR
Não fales nunca mais dessa tortura
De um amor sem vontade nem desejo,
De negarmos a alma em cada beijo,
Só unidos na carne que procura.
Não fales da violência mais impura
De quantas se arrepende o nosso pejo
- A fraude de fazer de cada beijo
O sarcasmo da vida e da amargura.
Deste-te, dei-me, na avidez sem nome
De enganar com o vento a nossa sede,
De esmagar com a terra a nossa fome.
Não fales mais, não fales nunca mais!
Que nenhum pobre desespero excede
A maldição de sermos mortais.
(1945)
Não fales nunca mais dessa tortura
De um amor sem vontade nem desejo,
De negarmos a alma em cada beijo,
Só unidos na carne que procura.
Não fales da violência mais impura
De quantas se arrepende o nosso pejo
- A fraude de fazer de cada beijo
O sarcasmo da vida e da amargura.
Deste-te, dei-me, na avidez sem nome
De enganar com o vento a nossa sede,
De esmagar com a terra a nossa fome.
Não fales mais, não fales nunca mais!
Que nenhum pobre desespero excede
A maldição de sermos mortais.
(1945)
quarta-feira, 29 de maio de 2013
OLAF: funções e limites
The European Anti-fraud Office (commonly known as OLAF, from French: Office de Lutte Anti-Fraude) is charged by the European Union with protecting the financial interests of the European Union: Its tasks are to fight fraud affecting the EU budget, as well as corruption and any other irregular activity, including misconduct, within the institutions of the European Union, in an accountable, transparent and cost-effective manner.
The Anti-fraud Office achieves its mission by conducting, in full independence, internal and external investigations. It also organises close and regular co-operation between the competent authorities of theMember States in order to co-ordinate their activities. OLAF supplies Member States with the necessary support and technical know-how to help them in their anti-fraud activities. It contributes to the design of the anti-fraud strategy of the European Union and takes the necessary initiatives to strengthen the relevant legislation.
It is an administrative investigative body. It has no judicial or disciplinary powers and it cannot oblige national prosecutors to act.
WIKIPEDIA
WIKIPEDIA
terça-feira, 28 de maio de 2013
Estávamos no bom caminho
Washington — Cleaner vehicles are part of the federal government’s comprehensive plan to reduce greenhouse gas emissions, build “clean” industries and reduce the nation’s dependence on imported oil, the Department of Energy says.
White House National Security Advisor Tom Donilon said in April that U.S. energy-related greenhouse gas emissions have fallen to 1994 levels “due in large part to our success over the past four years in doubling electricity from renewables, switching from coal to natural gas in power generation and improving energy efficiency.”
The early repayment of a $465-million loan from the Department of Energy to Tesla Motors, a manufacturer of electric cars, is good news for the future of America’s growing electric vehicle industry, according to Energy Secretary Ernest Moniz.
Adoção
O Jorge, que não tem este nome, desviveu,
dos seis aos dezoito anos, numa instituição, e, aos vinte e um, foi condenado a
8 anos de prisão. Até aos seis, tinha vivido a violência da família. Foi pai
pouco tempo antes de ser preso. O filho do Jorge já iniciou um percurso de vida
idêntico ao do pai. A adoção nada tem a ver com a orientação sexual de quem
pretende adotar, mesmo que os adotantes sejam do mesmo sexo. Quem adota quer
cuidar e o superior interesse da criança
é ser cuidada.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Becas outras
Na ficção, o tratamento da justiça e dos seus agentes é feito, quase quase sempre, pelo lado da caricatura. O contrário acontece, por exemplo, com a medicina ou com o ensino, em que médicos e professores assumem, quase quase sempre, uma dignidade em que o profissional se confunde com o humano. A retórica da justiça, trajando a opacidade dos compromissos e não a evidência das causas, será sempre um bom pretexto para um humor descarnado. De facto, o defeito não está na ficção, mas nessa incapacidade de usar outras becas.
Leituras
Voltou-se para o escriba:
- Escreva. «Perguntado donde conhecia o Dr.
Gonçalves Lopes, o réu declarou que estando uma vez no Café Suíço se viu …»
etc, etc.Depois de exaradas as declarações anteriores, com um dedo no ar fez sinal ao escriba que haveria uma suspensão e volveu, fitando-me:
- Confessou ao chefe Ferreira, e o mesmo dizem os apontamentos que me transmitiu o meu predecessor, que era anarquista?
Tinha decorrido um ror de dias, tempo mais que suficiente para os republicanos acautelarem os depósitos de armas e granadas e os componentes dos grupos, mais em risco, desaparecerem da circulação até ver onde paravam as modas. Por isso respondi despachadamente:
- Não senhor.
- Não senhor? Nega que tivesse feito tal declaração?
- Se V. Ex.ª me dá licença, vamos por partes. Tanto o meritíssimo Sr. Dr. Juiz Veiga como o digníssimo chefe Ferreira me perguntaram se sabia qual era a cor política do Dr. Lopes. Eu encolhi os ombros, em sinal de ignorância. «- Anarquista?» - acrescentou o mesmo meritíssimo Sr. Dr. Juiz Veiga. E eu respondi: - «Talvez». No propósito evidente de querer explorar a minha confissão, tornou o meritíssimo Sr. Dr. Juiz Veiga: «- E o senhor também é?».
Respondi-lhe que tendo em vista os princípios de igualdade e liberdade que parecem ser a base de semelhante sistema, todos nós, com certa cultura e professando a verdadeira moral cristã, não podíamos deixar de ser anarquistas. Não era Cristo um anarquista? Se daí fora levado a inferir que eu era um praticante anarquista, ou mesmo adepto de semelhante ideal, foi abuso de interpretação.
- Suponhamos. Mas nesse caso para que eram as bombas?
- Não sei.
- Com que intenção acolheu os caixotes cheios de material explosivo em sua casa?
- Com a intenção de servir um amigo.
- Apenas?
- Para mim era quanto bastava.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
A dignidade penal
Sobre a dignidade penal, os professores já disseram tudo. Ou quase. O problema é o do prestígio social, o do peso da hierarquia semântica. É aí que a jurisprudência ou vai para um lado ou vai para um outro. Vale a pena ler o que está escrito em O Caleidoscópio do Direito sobre a "teoria dos campos simbólicos".
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Uma instância moral
Há momentos em que a História, assumindo ser uma instância moral, repõe os factos e a dignidade dos seus agentes. Se por vezes demora vidas, em outras parece precipitar a verdade. É o que está a acontecer e justifica ainda uma esperança.
sábado, 18 de maio de 2013
O último enforcado em Aveiro
Ocorreu em 3 de setembro de 1841. O patíbulo foi erguido no Rossio,
largo da minha infância e adolescência. O supliciado, Jerónimo dos Santos
Brandão, tinha por alcunha o “Cospe-Fora”. Quem tenha lido Camilo não terá
dificuldade em compreender a história. Por causa de um testamento deu-se o
homicídio, assassinando-se um tio. A compor o drama, um miguelista teria
instigado o crime, já que a vítima, sendo um liberal, seria menos um. Os pormenores
podem ser lidos aqui, num artigo do grande aveirista
Eduardo Cerqueira.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Cinco anos
Iniciei este blogue há cinco anos. Depois de mais de mil e quinhentos registos e de uma dúzia e meia de leitores persistentes, o que posso concluir é que as causas de ontem continuam a ser as razões de hoje. Escreviver (onde aprendi este verbo?) é apenas um exercício de liberdade que dá sentido ao dever de reserva que é ónus de um magistrado.
Leituras
Nesse ponto da discussão, o meritíssimo disse que já
agora talvez não fosse despropositado ele ouvir do ilustre colega a opinião que
os advogados têm dos juízes, de facto era uma coisa que lhe despertava uma
certa curiosidade. O advogado sorriu. É capaz de não ser bem uma opinião, para
ser antes uma constatação. Os juízes têm demonstrado que a opinião que têm dos
advogados em geral não é muito diferente da aqui manifestada pelo digno
procurador. Acontece apenas que o juiz desempenha no processo um papel
diferente, mas que muitas vezes não é senão o papel de um déspota, infelizmente
nem sempre iluminado, porque limita-se a decidir que deve ser assim ou assado
e, não poucas vezes, por incompetência ou simples desleixo, sem uma convincente
fundamentação que obrigue ao respeito do advogado, mesmo estando ele em
desacordo com a decisão. A maior parte dos advogados está de acordo em como os
juízes procedem diante dos seus escritos como os professores das escolas
primárias: Vamos ver onde este aluno está a falhar! Na maioria deformados pelo
papel de decisores, em regra recusam aceitar que, como todos os mortais, também
cometem erros, mutas vezes erros crassos e de palmatória, e isto revela-se mais
confrangedoramente na sustentação das sentenças ou despachos recorridos. E
depois vivem no constante medo atávico de se deixarem enganar pelos aldrabões
dos advogados. Não pretendo, evidentemente, dizer que o colega proceda deste
modo, o que estou a dizer é que a maior parte dos juízes que conheci e com quem
trabalhei age desta forma. O juiz sorria desta análise e acabou por dizer que
ela era tão apaixonada quanto a que o digno agente tinha acabado de fazer. Mas
disse que estava na hora de reiniciarem os trabalhos se queriam mesmo almoçar
descansados e chegar em casa ainda de dia.
(pags. 222/223)
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Uma revolução em Aveiro
"Quando, a 16 de Maio de 1828, se sentiram os primeiros sintomas de
absolutismo no governo de D. Miguel, estalou uma revolução em Aveiro, que,
agora de desastre em desastre, logo de triunfo em triunfo, e, no intervalo,
pisando um calvário de aflições, tragédia, horror e lances de epopeia, acabou
por implantar, com a Convenção de Évora-Monte, o liberalismo em Portugal e por
um século."
Da conferência de Jaime Cortesão, que pode ser lida aqui.
Júlio Calisto, Álvaro Neves, Mário Sacramento, João Sarabando, Jaime Cortesão, Costa e Melo, Manuel Figueiredo, Armando Castela, João Morais Sarmento, Manuel das Neves e Joaquim José de Santana
Júlio Calisto, Álvaro Neves, Mário Sacramento, João Sarabando, Jaime Cortesão, Costa e Melo, Manuel Figueiredo, Armando Castela, João Morais Sarmento, Manuel das Neves e Joaquim José de Santana
domingo, 12 de maio de 2013
As escutas de Aveiro
Noronha do Nascimento, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, em
entrevista ao Expresso de ontem, volta a afirmar a irrelevância criminal das
escutas telefónicas respeitantes a José Sócrates, o que o levou a determinar a
sua destruição. Que quase quatro anos depois Noronha do Nascimento venha dizer
que ainda não sabe se a sua ordem foi cumprida, é que não pode deixar de
preocupar. O que teria sido óbvio, face à decisão do presidente do Supremo, é
que quem tivesse a guarda das respetivas gravações procedesse à sua destruição,
lavrasse um auto desse ato e o remetesse, ou cópia dele, à entidade que
proferiu a decisão, o que, com certeza, não aconteceu. Um Estado de Direito não
pode consentir a dúvida de Noronha do Nascimento.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Todos iguais, mas tão diferentes
Assim como quem não quer a coisa, vozes no passado tão assertivas
começam a sustentar que os políticos
são todos iguais. Trata-se de mais uma estratégia na desvalorização da
democracia. O que importa dizer é que as políticas
não são todas iguais. E que as opções que fazemos devem ter sempre a ver com
elas, as políticas, e não com a magia dos políticos.
domingo, 5 de maio de 2013
O medo
Num tempo propício à cobardia intelectual, não se podem ignorar as
palavras avisadas dos que nos alertam para a ditadura do medo. Há uns dias, a
propósito do 25 de abril, D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, alertou para a“ditadura do medo” que os portugueses estão a sofrer. Hoje, no Público, frei Bento Domingues, retoma o tema,
concluindo que Isto não é uma fatalidade.
É assim, porque nós consentimos. De facto, até com o medo das eleições nos
acenam.
Vigiados
Leio no DN que cerca de 107 mil alunos vão prestar provas do 4º ano “vigiados”
por 10 mil professores. Para a segurança ser ainda maior, as “forças policiais”
irão transportar os enunciados para as escolas. É assim que se educam crianças de 9 ou 10 anos para a
maturidade cívica e para a responsabilidade social? Ou é assim que se treinam para a desconfiança e para o
medo?
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