O homem só -esteve na cadeia- volta à cadeia
de cada vez que come um bocado de pão.
Na cadeia sonhava com lebres que fogem
no húmus invernal. Na névoa de inverno
o homem vive entre paredes de ruas, bebendo
água fria e comendo um bocado de pão.
Acredita-se que depois renasça a vida,
que a respiração se acalme, que o inverno volte
com o odor do vinho na quente taberna,
e o bom fogo e o estábulo e as ceias. Acredita-se,
enquanto se está lá dentro, acredita-se. Sais ao fim da tarde
e as lebres apanharam-nas e comem-nas ao quente
os outros, alegres. Tens de os ver pelos vidros.
O homem só ousa entrar para beber um copo
quando o frio é muito e contempla o seu vinho:
a cor fumosa, o sabor pesado.
Come o bocado de pão que sabia a lebre
na cadeia, mas agora já não sabe a pão
nem a nada. E também o vinho só sabe a névoa.
O homem só pensa naqueles campos, contente
de os saber já lavrados. Na sala deserta
tenta cantar em voz baixa. Revê
ao longo do dique os tufos de silvas desnudadas
que em Agosto eram verdes. Lança um assobio à cadela.
E a lebre aparece e deixam de ter frio.
Do livro Trabalhar Cansa, tradução de Carlos Leite, Edições Cotovia, 1997
domingo, 31 de agosto de 2014
sábado, 30 de agosto de 2014
Uma religião laica
No hay duda de que cuando se escriba la historia de la Unión Europea, y de la Eurozona dentro de ella, se mostrará hasta qué punto una religión laica –el neoliberalismo- se puede reproducir a pesar de que toda la evidencia empírica acumulada que muestra, no solo que estaba equivocada, sino también el enorme perjuicio que dicha religión está causando a las clases populares de los países de la Unión. La religión laica se promueve con un espíritu apostólico a base de una fe impermeable a la evidencia científica que señala claramente su enorme falsedad. Hoy, esta fe, reproducida por la mayoría de los medios, está anunciando que España y la Eurozona se están recuperando, cuando, en realidad, estamos entrando en otra recesión. Veamos los datos.
Vicenç Navarro, Público.es
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
O delírio de coimar
As sanções pecuniárias aplicáveis pelo não cumprimento, dentro dos prazos, das obrigações fiscais atingiram valores que não são razoáveis: perderam o sentido sancionatório a favor do intimidatório. Não deixa de ser curioso que o terrorismo fiscal seja uma das faces do neoliberalismo repressivo de que fala o Professor Adriano Moreira.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Os medos improváveis
Em 1997, estive em Xangai, em família. Numa noite de sábado, com milhares de pessoas na rua, recordo-me dos vazios que se criavam em nosso redor apenas para verem as nossas duas filhas. O cabelo encaracolado de uma delas foi, então, um verdadeiro fascínio. No domingo de manhã, num parque público, com centenas de pais a brincarem com os seus filhos, únicos presumo, o espanto repetiu-se. Foram largas as dezenas de fotografias que foram tiradas às minhas filhas. Não me passou pela cabeça ir à polícia e solicitar a apreensão das máquinas fotográficas.
sábado, 23 de agosto de 2014
O pelourinho
É em períodos políticos mais críticos que a justiça criminal, nomeadamente na sua vertente policial, deveria ser mais comedida. A investigação, ao promover o alarido mediático e sustentar o pelourinho das condenações, desfaz os princípios da equidade e da presunção da inocência, tornando-se num instrumento eficaz de manipulação política. A fuga enfática e sistemática de informações que invalidam quaisquer direitos de defesa tem um propósito político que não pode ser ignorado. A autonomia da investigação criminal não se compadece com tais procedimentos.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Um mapa em bolandas
No Mapa Judiciário, o provisório continua a ditar a lei, exigindo novas viagens processuais. O Despacho nº 10780/2014, da Ministra da Justiça, hoje publicado, é disso garantia.
(Via CONFUNCONÁRIO)
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Notícias
Durante alguns dias, talvez a três mil quilómetros de distância, acompanhei o que se passava em Portugal pelos noticiários televisivos das 20 horas na RTP. Pedofilia, violência doméstica, incêndios e futebol, para além de um reportagem desastrada sobre um alegado terrorista português. As crises, a do BES e as outras, parecem pertencer a um passado longínquo. Afinal, as decisões do Tribunal Constitucional não foram, do ponto de vista governamental, tão desastradas, e até uns mexicanos ricos acreditam na saúde do Espírito Santo.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Teologias
O Espírito Santo ainda vai no adro. Não é preciso ser um especialista em teologia financeira para perceber que os caminhos do futuro ainda são insondáveis. A leitura do comunicado do Banco de Portugal, pelo seu Governador, foi de quem, ao lê-lo, tentava compreendê-lo. Lido às 22 horas e 30 minutos de um domingo, deu, pelo menos, tempo ao comentarista Marcelo para preparar a respetiva homilia no domingo seguinte. Eticamente, não se justificou a comparação com a solução encontrada para o BPN: apenas uma colagem política ao discurso de silêncios do governo. Haverá responsáveis para todos os gostos e desgostos. Mas nenhum deles deverá desmerecer o que foram estes três anos de degradação social e económica.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Prender menos
At 149 per 100,000, the incarceration rate in England and Wales is still way below America’s 707, but it is far greater than Germany’s 78 and the Netherlands’ 75.
Nota: um artigo fundamental para a questão do número excessivo de presos.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
Novo jogo
Dividir uma folha em branco longitudinalmente. Encabeçar cada uma das partes com os nomes dos responsáveis do BPN e do BES. Fazer seguir a esses nomes os nomes dos políticos que pensamos serem-lhes próximos. Verificar se há ou não coincidências nestes nomes. Ganha quem conseguir um maior número de coincidências.
domingo, 3 de agosto de 2014
A credibilidade da solução
Para compreender o que é proposto, torna-se importante ler o relatório de 2013 do Fundo de Resolução. No resto, só pode ser ilusionismo fazer do velho novo.
A queda de um banqueiro
Presumo que o Dr. Ricardo Salgado tivesse sido um banqueiro competente. Pelo menos, foi o que me fizeram crer todos esses comentaristas que, inundando as televisões, pregavam sobre a dignidade e a eficiência da iniciativa privada. Sendo um banqueiro competente, o que é que lhe correu (nos correu, melhor dizendo) mal? O Dr. Ricardo Salgado, presumo, quis surfar a onda da política, mas foi submerso por ela. Os tais comentaristas, desaparecidos em férias, o que não explicam é o contributo da hiper-austeridade governamental na queda do banqueiro.
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