Há um certo exagero em
responsabilizar a atual procuradora-geral da República por uma
atuação do Ministério Público que tem merecido um alargado
consenso crítico. Mais do que uma causa, a procuradora-geral da
República é uma das consequências de um caldo de cultura
institucional que se foi afirmando ao longo de décadas. Com a saída
de Cunha Rodrigues, procurador-geral da República entre 1984 e 2000,
a ideia de uma autonomia do Ministério Público como sendo a
autonomia funcional de cada um dos magistrados, relegando a noção
de hierarquia para aspetos de mera gestão administrativa, fez,
progressivamente, o seu caminho. Quem tentou opor-se a essa
caminhada, como foi o caso de Pinto Monteiro, procurador-geral da
República entre 2006 e 2012, foi esmagado por uma aliança entre
essa prática já instalada e uma comunicação social que dela tirava dividendos. Só por ironia se pode agora dizer que a
situação se deve a uma inabilidade comunicacional da
procuradora-geral da República.