quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Um outro corregedor

Nunca conheci juiz que escrevesse tão rapidamente, numa letra redonda que ocupava o espaço entre as linhas da folha de papel. A tinta permanente. Peregrinava pelas comarcas do círculo judicial em automóvel de aluguer. Rara foi a vez em que leu o acórdão em dia diferente daquele em que se realizava o julgamento. Por uma vez ou outra, viu-o adormecer, após o almoço, durante a audiência. Havia, então, um programa radiofónico dos Parodiantes de Lisboa que era transmitido pela manhã e lhe servia de companhia nas viagens. Em alguns desses programas, parodiavam-se ditados populares. Um dia, chegou ao tribunal com uma disposição, ele que era bem-disposto, imprevisível. E ria, repetindo o que ouvira no programa dos Parodiantes de Lisboa: à menina que é borracho ponho eu a mão por baixo. Foi há mais de vinte e cinco anos.