Avenida 5
de Outubro
O nascimento da república. O meu avô está lá. De pé
ao cimo da avenida. Os olhos abertos para o futuro. Está de pé e treme no lado
ocidental da barricada, construída por ele (por todos nós) com bancos
arrancados da rua. Cai-lhe m chapéu para a testa ancestral. Cai-lhe um bigode
para os lábios históricos. Ao fundo da espingarda começam os seus olhos.
Graves, cor de maçã. Em Trieste, ao mesmo tempo, sem nada saber, James Joyce
escreve «Dubliners», num pequeno café, cuja primeira edição há-de ser queimada
por um desconhecido.
O meu avô está triste porque dali não pode ver o
Tejo (minha avó engoliu o Tejo). Mas Novélia dobrou agora a esquina. Vem aí.
Desculpe, avô. Novélia: um vestido vermelho e um guarda-chuva com a cabeça de
um cão na ponta. Um dia hás-de vir comigo avô ouvi-la falar dos ratos que ele
cria e que vêm da Índia em barcos e que lhe sobem os sorrisos. A um rato, o
maior, chama-lhe Vasco da Gama.
(pag. 25)