O 25 de abril foi amanhã; um presente sempre futuro. Amanhecia ainda, e os poucos automóveis que passavam pela estrada que ladeava o quartel pareciam tímidos nos sinais de luzes ou sonoros com que alguns ousavam acenar-nos. Tinha-me levantado cerca das três horas, e o que se adivinhava estava a acontecer. Na noite de 24, com alguns camaradas, fôramos à FIL. Figuras importantes do regime mostravam-se por ali, sem terem a noção, presumo, de que eram já fantasmas. Uma revolução assim há muito que era óbvia; uma revolução de quase todos e que, como acontece em todas as revoluções, vai ficando a revolução dos que descem a Avenida da Liberdade. Haverá novas manhãs como aquela, outras memórias do futuro. Tal como na vida, a história nunca é definitiva.