Só se deve sonhar em comum.
O pensamento não cinge, converte.
É preciso despegar a alma das fibras dos sentimentos.
Abominar a realidade, mas não lhe fugir.
Ter documentos móveis e instantâneos, que se enovelam e decifram.
Ser um gato, parado, ao sol, que abre de vez em quando uns verdes olhos, cheios de cambiantes.
Calar o medo e o pavor.
O que sobra de nós, fica nos outros. Que o repelem.
O constrangimento revela a diferença e a suspeita.
Nenhum entendimento entre a água e a pedra.
É preciso somar os minutos inconformes. E atirá-los à cara do primeiro transeunte.
Dominar - a correr - a imaginação. Causa de tantas mortes.
14 de Fevereiro de 1969.
*Raul de Carvalho (1920-1984), do livro um e o mesmo livro, 1984, Editorial Presença