terça-feira, 22 de abril de 2014

Leituras


O pior dos leitores é aquele que se fica pelas ‘notícias’. Diariamente, lê com infatigável prazer como, num lugar qualquer que nunca viu, em circunstâncias que nunca ficam suficientemente esclarecidas, alguém que não conhece desposou, salvou, roubou, violou ou assassinou um outro alguém que também não conhece. Mas entre este leitor e o da classe imediatamente acima –a dos que lêem o tipo mais inferior de ficção- não existe uma diferença essencial. O primeiro quer ler sobre o mesmo género de eventos que o segundo. A diferença reside em que, como a Mopsa de Shakespeare, ele quer ‘ter a certeza de que são verdadeiros’. E isto porque ele é tão avesso à literatura que mal pode encarar a invenção como uma actividade legítima, sequer mesmo possível.

Pag. 45
 
Nota: É uma excelente explicação para o "êxito" de certos jornais e de incertos autores.