O pior dos leitores é aquele que se fica pelas ‘notícias’.
Diariamente, lê com infatigável prazer como, num lugar qualquer que nunca viu,
em circunstâncias que nunca ficam suficientemente esclarecidas, alguém que não
conhece desposou, salvou, roubou, violou ou assassinou um outro alguém que
também não conhece. Mas entre este leitor e o da classe imediatamente acima –a dos
que lêem o tipo mais inferior de ficção- não existe uma diferença essencial. O
primeiro quer ler sobre o mesmo género de eventos que o segundo. A diferença
reside em que, como a Mopsa de Shakespeare, ele quer ‘ter a certeza de que são
verdadeiros’. E isto porque ele é tão avesso à literatura que mal pode encarar
a invenção como uma actividade legítima, sequer mesmo possível.
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Nota: É uma excelente explicação para o "êxito" de certos jornais e de incertos autores.