A interpretação luso-tropicalista - amável como era para com os portugueses e para com as elites lusófilas da sociedade goesa e conveniente como se apresentava para as políticas coloniais do salazarismo - passou a constituir um dos pilares da interpretação sociológica e histórica da cultura goesa. Uns dez anos mais tarde, nela se apoia o geógrafo Orlando Ribeiro, bem como os seus discípulos, em trabalhos, aliás importantes, sobre o Estado da Índia. Paradoxalmente, é este mesmo Orlando Ribeiro quem, pouco depois, num relatório que elabora sobre a situação social em Goa, desmente esta visão rósea, ao dar-se conta de como ela era contradita pelos factos. Nessa peça, de grande honestidade intelectual, Ribeiro analisa com detalhe as tensões existentes na sociedade goesa e, muito concretamente, o grande afastamento que existia entre os portugueses e os naturais, duas comunidades afastadas pela língua, pelas tradições culturais, pelos interesses materiais, mesmo pela religião. Assinala, por exemplo, o desinteresse dos portugueses - e da política do governo colonial - pelas história e cultura hindus, continuamente menorizadas e exoticizadas no discurso oficial, enquanto também não havia qualquer menção a elas nos manuais escolares; onde, em contrapartida, se estudavam os egípcios, sumérios e assírios, os caldeus. E refere longamente a má opinião e a hostilidade dos naturais em relação aos portugueses, produto da sedimentação de uma história fortemente conflitual. O relatório - que fora pedido por Salazar e que era dirigido a ele - permaneceu impublicado.
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