Conheci o Faneca há cerca de 35 anos. Em processos tutelares. Aos 16
anos, iniciou o seu roteiro de prisões, por tudo e por nada. Se desaparecia uma
galinha ou uma bicicleta, o Faneca confessava e sorria. Queria ir ao mar, ser
pescador, mas não conseguia a matrícula por que não tinha a quarta classe.
Ontem, nas Caxinas, reencontrei o Faneca. Sem uma perna e sem dentes, mas com o
mesmo sorriso de quem apenas sabe confessar. Esmolava, que é hoje a sua fonte
de sobrevivência. Tanto tempo depois, descubro que uma esmola, pelo menos para
o Faneca, é mais importante do que todo o direito.