Nesse ponto da discussão, o meritíssimo disse que já
agora talvez não fosse despropositado ele ouvir do ilustre colega a opinião que
os advogados têm dos juízes, de facto era uma coisa que lhe despertava uma
certa curiosidade. O advogado sorriu. É capaz de não ser bem uma opinião, para
ser antes uma constatação. Os juízes têm demonstrado que a opinião que têm dos
advogados em geral não é muito diferente da aqui manifestada pelo digno
procurador. Acontece apenas que o juiz desempenha no processo um papel
diferente, mas que muitas vezes não é senão o papel de um déspota, infelizmente
nem sempre iluminado, porque limita-se a decidir que deve ser assim ou assado
e, não poucas vezes, por incompetência ou simples desleixo, sem uma convincente
fundamentação que obrigue ao respeito do advogado, mesmo estando ele em
desacordo com a decisão. A maior parte dos advogados está de acordo em como os
juízes procedem diante dos seus escritos como os professores das escolas
primárias: Vamos ver onde este aluno está a falhar! Na maioria deformados pelo
papel de decisores, em regra recusam aceitar que, como todos os mortais, também
cometem erros, mutas vezes erros crassos e de palmatória, e isto revela-se mais
confrangedoramente na sustentação das sentenças ou despachos recorridos. E
depois vivem no constante medo atávico de se deixarem enganar pelos aldrabões
dos advogados. Não pretendo, evidentemente, dizer que o colega proceda deste
modo, o que estou a dizer é que a maior parte dos juízes que conheci e com quem
trabalhei age desta forma. O juiz sorria desta análise e acabou por dizer que
ela era tão apaixonada quanto a que o digno agente tinha acabado de fazer. Mas
disse que estava na hora de reiniciarem os trabalhos se queriam mesmo almoçar
descansados e chegar em casa ainda de dia.
(pags. 222/223)