PRIMEIRO E ÚLTIMO SONETO DE AMOR
Não fales nunca mais dessa tortura
De um amor sem vontade nem desejo,
De negarmos a alma em cada beijo,
Só unidos na carne que procura.
Não fales da violência mais impura
De quantas se arrepende o nosso pejo
- A fraude de fazer de cada beijo
O sarcasmo da vida e da amargura.
Deste-te, dei-me, na avidez sem nome
De enganar com o vento a nossa sede,
De esmagar com a terra a nossa fome.
Não fales mais, não fales nunca mais!
Que nenhum pobre desespero excede
A maldição de sermos mortais.
(1945)