quinta-feira, 30 de maio de 2013

Leituras

PRIMEIRO E ÚLTIMO SONETO DE AMOR


Não fales nunca mais dessa tortura
De um amor sem vontade nem desejo,
De negarmos a alma em cada beijo,
Só unidos na carne que procura.

Não fales da violência mais impura
De quantas se arrepende o nosso pejo
- A fraude de fazer de cada beijo
O sarcasmo da vida e da amargura.

Deste-te, dei-me, na avidez sem nome
De enganar com o vento a nossa sede,
De esmagar com a terra a nossa fome.

Não fales mais, não fales nunca mais!
Que nenhum pobre desespero excede
A maldição de sermos mortais.

(1945)