No tempo da minha infância, os restos eram uma séria preocupação doméstica. A perspectiva piedosa de que nada se poderia/deveria desperdiçar, nomeadamente os restos da comida, levava à sua gestão criteriosa. Havia os restos que eram dados à lavagem e recolhidos por quem tinha porcos para alimentar. Havia uns outros restos que, podendo escapar à lavagem, eram levados pelos ciganos quando estes apareciam. Por fim, havia os restos melhorados para distribuir pelos pobrezinhos, que eram os pobres bem-educados, a distribuir, geralmente, ao sábado de manhã. Hoje, os restos são políticos e têm direito a televisão. São os restos de rastos.
*Este texto deve-se à leitura da crónica de Pedro Adão e Silva, ontem, no Expresso.