“O instante do crime é uma
estreita passagem onde a justiça não entra. Opera-se a metamorfose de todas as
coisas, a culpa é reduzida a uma estranheza absoluta em relação ao móbil. O
labirinto arrasta a culpa e as personagens que pretendem dar-lhe autenticidade.
Seia anos depois do crime, o que se vai julgar é um parentesco cego com o
espírito da enfermidade que toma a forma da existência e produz os
acontecimentos. Já não podia haver uma definição psicológica sem uma opção
moral naquelas circunstâncias. O próprio entraçado dos factos se tinha desatado
e o que restava era uma decisão anódina que modelava as coisas, em atraso com a
visão e a forma real delas mesmas.”
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