segunda-feira, 3 de junho de 2013

Leituras


Os heréticos condenados eram levados para um estrado de madeira, erguido cerca de um metro acima do solo, e amarrados a um poste por uma pesada corrente; os feixes de lenha eram então empilhados à sua volta até uma altura que escondesse parcialmente os membros dos olhos dos espectadores. O mayor gritava «Pega fogo à lenha!» e «Fiat justitia!» («Faça-se justiça!»), e o carrasco, depois de ver de que lado soprava o vento, chegava o archote aos feixes. Há numerosas xilogravuras do processo, em algumas das quais se vê a igreja de St Bartholomew por detrás da fogueira acesa em Smithfield. Há sempre uma grande multidão a assistir. Por vezes, o devoto povo tem de ser contido por soldados a cavalo e guardas apeados armados de alabardas. Ergue-se um palanque para os «nobres» que desejem testemunhar o interessante acontecimento. Outras pessoas vêem, das janelas, como o corpo do condenado, carbonizado e derretido pelas chamas, tomba para a frente, preso pela corrente. Nunca se sabia ao certo, porém, quando seria o grande momento; um herético demorou quarenta e cinco minutos a morrer, e John Foxe conta que «quando tinha o braço esquerdo a arder e carbonizado, tocou-lhe com a mão direita, e o braço separou-se-lhe do corpo, e ele continuou a rezar até ao fim, sem gemer».
(pag. 216)