“O escravo
era considerado, simultaneamente, um bem e uma pessoa. Esta dupla natureza
tinha como consequência que cada um dos papéis colocava limites à realização do
outro, ou seja, o seu valor como património do dono amputava-o de grande parte
das prerrogativas próprias dos outros seres humanos, assim como a sua condição
humana colocava também algumas limitações ao poder do senhor. Nada, no entanto,
que fosse difícil de aceitar pelas pessoas da época, tal como hoje se aceita
geralmente que um trabalhador assalariado seja tido pelos empregadores simultaneamente
como pessoa e como factor de produção, com as inevitáveis consequências para as
suas condições de vida.” (pags. 291/292)