Desde criança, sempre que perguntado sobre o que quereria ser quando
fosse grande, nunca Bruno se enganou: ele queria é ser ladrão, um gatuno a
sério, temido quadrilheiro. Tanta convicção deixava os pais de Bruno
infelicíssimos. Pobres senhores. Tiveram que o tirar do jardim-infantil, dar
explicações coxas a professores e pais de colegas. Um calvário. Que se
prolongou pela escola primária, colégios internos e colónias balneares. A
vocação de Bruno para o gamanço, mesmo se diferida, não era melhor compreendida
pelos seus e acarretou-lhe sovas das antigas e dissabores continuados. Tinha o
miúdo catorze anos quando julgou chegado o momento de dar o golpe da sua vida e
esvaziar à noitinha a mercearia do bairro. Em má hora o tentou, pois deu de
caras com a mãe sendo seduzida pelo dono da loja atrás do balcão. O mundo
ganhou mais um cidadão honesto, honesto e triste como os outros. (pags. 69/70)