“Em nossa casa discutia-se toda a espécie de assuntos. Os meus irmãos
mais velhos liam os jornais diários, incluindo os folhetins. Eu ouvia-os falar
acerca de damas veladas, segredos terríveis e paixões fatais. Até o Pai falava,
às vezes, de homens insensatos que se apaixonavam por mulheres sem moral e que,
se não podiam satisfazer os seus desejos, pegavam num revólver e acabavam com a
vida. Mas a história que me fascinava mais era a dum homem a quem tinham falado
numa prostituta dum país distante que exigia quatrocentos gulden pelos seus favores. O homem ia ter com ela e ela preparava
um sofá dourado para ele. Então ele sentava-se ao pé dela, nu, e ela estava
também nua. Mas, de súbito, as franjas do xaile de oração do homem erguiam-se
sozinhas e fustigavam-lhe o rosto. No fim, ambos eles se arrependiam. Ele
casava com ela e o sofá do pecado tornava-se num leito conjugal santificado
pelo casamento.” (pag. 81)