quarta-feira, 27 de março de 2013

Mário Sacramento


Morreu em 27 de março de 1969. Tê-lo conhecido é uma memória grata que não saberei esquecer. Do seu Diário, que continuo a reler,  registo da entrada respeitante a 22 de agosto de 1967:
Ao darmos a identificação na Secretaria do Aljube, o ofídio que a dirigia perguntava sempre - pois havia uma alínea na ficha para isso:
- Por que motivo foi preso?
Respondi, de todas as vezes:
- Isso gostava eu de saber!
Logo me aplicavam um pequeno castigo: suspensão de artigos de toilette, por exemplo. A higiene continua a ser um supérfluo entre nós, uma sobremesa de que se priva o menino malcriado! Era norma, então, lutar-se constantemente contra todos os atropelos da lei: se esta era fascista, que os fascistas a respeitassem. Em conformidade, dirigi, de todas as vezes, protestos escritos às várias entidades - director da polícia, ministros, Ordem dos Médicos, etc. Quando o despacho era da polícia (que dos outros nunca tive notícia), em regra rezava assim: «Estando provado que o detido está ao serviço do imperialismo e do militarismo soviético, etc., etc.» De uma das vezes, deu-me para reclamar por ter sido preso sem mandado de captura. Pois como resposta, levaram-me à cela o documento em falta, devidamente legalizado! E não quer o João Medina que a ironia possa ser reaccionária...