"Na sua simplicidade este episódio mostra uma das mais perversas características da justiça portuguesa, ou seja, a escandalosa promiscuidade entre a investigação criminal e os órgãos de comunicação social. Um cidadão apresenta queixa por factos que indiciam a existência de um crime, os investigadores abrem um inquérito e a seguir arquivam-no sem que ninguém (na PJ ou no MP) lhe preste os esclarecimentos e as explicações a que ele tinha direito. Quem acaba por fazê-lo é um jornalista num momento em que o processo ainda estava em segredo de justiça e mesmo antes de o queixoso ser notificado do despacho de arquivamento.
Poderia ficar por aqui, pois, o caso já fala por si o suficiente. Mas não. É imperioso dizer que a justiça só cumprirá as suas finalidades constitucionais quando estiver entregue a magistrados e a polícias em quem se possa confiar. Não sei quem é o responsável pela omissão das explicações a que me julgava com direito nem pela preferência dada ao jornalista em detrimento de mim próprio. Sei apenas que, numa justiça que funciona assim, decididamente, não se pode confiar."
Marinho e Pinto, in JN