domingo, 23 de janeiro de 2011

Eleições

Em 1973, era Delegado do Procurador da República, interino, algures numa comarca do centro do País. Substituía uma Delegado, já efetivo, que ao tempo cumpria o serviço militar obrigatório.
Em 28 de Outubro desse ano, fingiram-se as últimas eleições para a Assembleia Nacional.
Naturalmente, não fui fingir.
No dia seguinte, no Tribunal, sussurrava-se sobre a minha abstinência corporativa, ainda que não tivesse falado com quer que fosse sobre o assunto.
Um advogado da comarca, simpático, com quem gostava de falar, e que fora feito deputado pela primeira vez, confidenciou-me que lamentara a minha ausência.
Em Janeiro de 1974, fui chamado para o serviço militar, iludindo-se uma vaga promessa de que essa chamada só se concretizaria lá para o Verão, depois de ter tido possibilidade de conseguir a efetivação como magistrado.
A verdade é que se tivesse fingido naquele dia 28, o mais certo seria não ter estado na Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, no dia 25 de Abril.
Hoje, sei que se alguma coisa eu fiz de louvável na vida, foi não ter caucionado o fascismo naquele dia 28.
É também por isso que hoje vou votar.